quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Inteligente, mas não o suficiente
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
A Carta de Christopher Hitchens
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
O Cromossomo 2
É sabido que seres humanos possuem 23 pares de cromossomos enquanto os grandes símios possuem 24. Se nós temos um ancestral comum, onde foi parar esse par de cromossomos extra? Em outubro de 1991, um artigo de J. W. IJdo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences respondeu a essa questão, fornecendo mais evidências contundentes a favor da temida ancestralidade comum entre os seres humanos e chimpanzés.
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No final de cada cromossomo existe uma seqüência de DNA chamada Telômero. Sua função é proteger as pontas do DNA cromossômico durante a replicação. Ele consiste em uma longa seqüência de DNA repetida muitas vezes(No caso dos primatas a seqüência TTAGGG é repetida de 500 a 3500 vezes). Embora, como dito acima, essa estrutura seja normalmente encontrada nas pontas dos cromossomos, nos seres humanos o cromossomo 2 possui na sua parte central uma seqüência de DNA telomérico seguido de uma seqüência inversa, indicando uma fusão.
Outra indicação dessa fusão é um centrômero vestigial. Os centrômeros são uma parte condensada do cromossomo e ficam geralmente no meio deste. O cromossomo 2 humano possui em sua parte superior um centrômero que corresponde ao do cromossomo 2p dos chimpanzés. Na parte inferior existem restos de um segundo centrômero na mesma posição em que se encontra no cromossomo 2q desses símios.
Essas, aliadas com a similaridade quase total do material genético do cromossomo humano 2 e seus correspondentes 2p e 2q em outros primatas, são não só fortes evidências para o evento da fusão como também para nosso parentesco direto com essas espécies.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Sobre pastores e astrólogos
Ulisses Capozzoli
Num seminário, recentemente no Rio, ouvi o relato de um dos componentes da mesa sobre a reação de parte de crianças à idéia de o Universo ter a idade aproximada de 14 bilhões de anos.
Essas crianças, que freqüentam determinado espaço dedicado à ciência — influenciadas pelo criacionismo e interpretações fundamentalistas religiosas do mundo — segundo o palestrante, sorriem com desdém sobre a científica idade do Cosmos.
Isso significa que, antes de essas crianças estarem criticamente maduras para uma apreciação sensível, inteligente e promissora da Natureza, foram mentalmente dominadas pelo dogmatismo estúpido de fundo religioso que ameaça retroceder o pensamento a uma repugnante era de trevas.
E o mais desconcertante:
O palestrante diz que “respeita esse tipo de interpretação”.
Mas nada disso seria estranho se, uns poucos minutos depois, ele não exibisse uma arte das constelações zodiacais e, em seguida, fizesse duras críticas à astrologia.
A questão aqui é a seguinte: se ele aceita idéias arcaicas e sem sentido, promessas despudoramente falsas e “milagres” deslavadamente mentirosos que uma legião de “pastores” propaga diuturnamente em programas de rádio e TV, por que criar caso com a astrologia?
A resposta, a meu ver, é simples e direta:
Covardia e ausência de integridade científica.
E não estou acusando uma pessoa em particular — isso não faria sentido.
Estou me referindo a uma tendência, visível a olho nu, de “respeitar” farsas que são verdadeiros casos de polícia, envolvendo estelionato entre outros crimes, mas, ao mesmo tempo, não perdoar os astrólogos.
Aqui uma rápida explicação:
Não estou defendendo nem atacando astrólogos e a astrologia.
Estou fazendo uma comparação entre essas duas áreas, o que é muito diferente.
Carl Sagan (1934-1996), astrônomo e divulgador científico talentoso, preveniu, em seu último livro, O mundo assombrado pelos demônios – a ciência como uma vela no escuro, sobre as conseqüências da impotência da ciência em sensibilizar a sociedade humana para uma perspectiva mais promissora.
Se visse ou ouvisse qualquer um desses espetáculos grotescos na TV ou em inúmeras estações de rádio, envolvendo pregadores de diferentes igrejas — todas elas preocupadas com interesses mundanos — Sagan teria descoberto que a tragédia que previu chegou mais cedo que havia pensado.
A covardia da posição a que me refiro talvez possa ser entendida da seguinte maneira:
Criticar esses criminosos que manipulam a fé das pessoas — esse sim, um valor sagrado, na acepção clássica desse termo — é literalmente cutucar um vespeiro.
Igrejas, cada vez mais concebidas como uma rentabilíssima atividade — à custa da miséria material e filosófica de boa parte da população — costumam reagir com a veemência típica de farsantes e abusadores da fé como forma de proteger seus negócios hediondos.
Já os astrólogos, para usar uma expressão cotidiana, estão “pouco se lixando” para o que dizem astrônomos e outros cientistas.
Eles sabem que os jornais continuarão publicando o horóscopo diário e talvez a maior parte das pessoas faça uma leitura diária deles, mesmo sem confessar esse comportamento.
E nem precisam. Esse é um direito elementar de cada um.
E, além disso, convenhamos, a astrologia e astrólogos não são nenhuma ameaça. Ao contrário do que ocorre com igrejas que costumam saquear financeiramente um número desconhecido de vítimas.
Ou estimular ataques para a “conquista de almas” como ocorreu no Iraque.
Eventualmente, uma nota de canto de página nos jornais, traz uma pequena referência a abusos dessa natureza.
Pessoalmente posso dizer que não tenho qualquer dificuldade em revelar que leio meu horóscopo diariamente, com um critério bem particular:
Se as previsões são boas, considero que está tudo bem.
Se forem ruins, interpreto que tudo não passa de besteira e não ligo a mínima.
Talvez uma leitura possível das colunas de horóscopo publicada diariamente pelos jornais seja a de que são uma espécie de diluição homeopática do que um dia foi, por exemplo, o prestigioso Oráculo de Delfos.
O horóscopo diário é o oráculo rarefeito do século 21, para atender a cultura de massas, do homem destituído de alma e de senso crítico, a que se referiram filósofos como o espanhol Jose Ortega y Gasset.
O horóscopo diário talvez seja uma espécie de bengala em que as pessoas se apóiam para enfrentar a insegurança crescente do cotidiano:
O ônibus perfurado de balas, não por bandidos, mas pela Polícia, no Rio de Janeiro.
As garotinhas assaltantes e ameaçadoras, de 11 e 12 anos de idade, que atuam impunemente na Vila Mariana, em São Paulo.
Os edifícios incendiados por protestos em Londres, que no passado recente já foi bem mais cool.
O atirador inesperado que dispara, sem qualquer razão aparente, numa escola americana ou numa ilha paradisíaca, na Noruega.
O horóscopo certamente é o remanescente da idade mágica que vivenciamos na pré-história e não completamente superado, ao contrário do que se costuma crer.
A astrologia e os astrólogos não são incentivadores de guerras, ao contrário do que ocorreu e continua ocorrendo com o fanatismo religioso.
E a manipulação da religiosidade de cada um talvez seja a culminância do abuso e desrespeito profundos, camuflados sob uma pretensa liberdade religiosa que permite, entre outras coisas, uma negociata política, nefasta à sociedade como um todo.
Não tenho qualquer pretensão de colocar ponto final numa questão que se arrasta pelo tempo e talvez venha a ser ainda pior no futuro imediato.
Ao menos se as coisas continuarem assim.
Toco no assunto porque essa é uma questão profundamente afeita à ciência e à produção do conhecimento científico com base na ética, na estética e na história.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Peixes Dourados e a Realidade
Há alguns anos atrás o concelho municipal de Monza impediu donos de peixes dourados de os porem em aquários esféricos. O defensor da medida alegou que seria crueldade manter um peixe em tais condições, pois o animal teria uma visão distorcida da realidade. A visão do peixe seria diferente da nossa, mas poderia ser chamada de menos real?
Apesar da distorção da luz, um peixe em um aquário ainda poderia formular, por exemplo, leis científicas que descrevessem corretamente as leis de movimento. Devido à distorção, um objeto que se movesse em linha reta fora do aquário seria percebido pelo peixe como movendo-se em uma trajetória curva. Suas leis seriam mais complicadas que as nossas, mas simplicidade é uma questão de gosto. Se tais leis fossem formuladas deveríamos admitir essa como uma visão valida da realidade.
Por volta de 150 d.C. Ptolomeu descreveu o movimento dos corpos celestes em seu trabalho de treze livros chamado Almagesto. Nele são expostas razões para se crer que a terra é esférica, imóvel, posicionada no centro do universo e relativamente pequena em comparação com as demais esferas celestes. Essa representação do sistema solar(com ciclos, epiciclos e equantes) permitia predizer o movimento dos planetas com certa precisão e, adotada pela igreja católica, influenciou o pensamento ocidental por 14 séculos. Até que em 1543 um modelo alternativo foi proposto por Nicolau Copérnico em seu livro Da revolução de esferas celestes.
Copérnico descreveu um mundo no qual o sol estava em repouso e os planetas o revolviam em órbitas circulares. Embora essa idéia não fosse nova, sua exposição encontrou grande resistência por ser considerada contraditória em relação à Bíblia. Esse modelo foi furiosamente debatido, culminando no julgamento de Galileu por heresia em 1633 por defende-lo. [Galileu foi considerado culpado e condenado à prisão domiciliar para o resto de sua vida, até que em 1992 a igreja católica finalmente reconheceu seu erro ao condená-lo.]
Qual seria real, o sistema de Ptolomeu ou de Copérnico? Embora seja comum a noção de que Copérnico provou que Ptolomeu estava errado, isso não é verdade. Ambos podem ser derivados de observações precisas. A verdadeira vantagem do segundo modelo é apenas que nele as equações que descrevem o movimento são muito mais simples. Não há um conceito independente da realidade, por isso adotamos o chamado Realismo Dependente de um Modelo.
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A ciência clássica é baseada na idéia de que existe um mundo externo real cujas propriedades físicas têm valores bem definidos. Nessa visão, nossas teorias são tentativas de descrever esses objetos e suas propriedades. Em outras palavras, se eu vejo uma manada de zebras lutando por um lugar numa garagem é porque realmente existe uma manada de zebras lutando por um lugar numa garagem. Todos os outros observadores que olharem irão medir as mesmas propriedades e elas irão existir quer existam observadores ou não. Em filosofia isso é chamado de Realismo. Embora alguns realistas constantemente afirmem que a prova de que uma teoria científica representa corretamente a realidade é que ela funciona, diferentes teorias podem descrever com sucesso o mesmo fenômeno por diferentes conceitos.
Tradicionalmente aqueles que não aceitam o realismo são chamados antirealistas. Eles propõem uma distinção entre conhecimento empírico e conhecimento teórico. Os antirealistas defendem que observação e experimentação têm importância, mas teorias não são mais que instrumentos que não incorporam nenhuma profundidade ao fenômeno observado. Alguns até quiseram restringir a ciência somente às coisas que podem ser observadas. Por essa razão, muitos no século 19 rejeitaram a idéia de átomos, já que nunca veríamos um. George Berkeley (1685-1753) foi ao extremo de afirmar que nada existe exceto a mente e as idéias. Já no ponto de vista de David Hume (1711-1776), embora não haja motivo racional para a crença em uma realidade objetiva, nós não temos escolha a não ser agir como se ela existisse.
O Realismo dependente de um modelo funde todos esses argumentos entre as duas escolas de pensamento. Segundo ele não faz sentido perguntar se um modelo é real, apenas se ele concorda com observações. Podemos usar o modelo que nos for mais conveniente. Se estivermos dentro de um aquário esférico, a teoria do peixe dourado nos seria a mais útil. Caso hajam mais modelos para explicar o mesmo fenômeno, optamos por aquele que explica mais fatos observados com menos elementos arbitrários e que prevê observações futuras que sejam falseáveis. Embora não deva ser taxada de irreal, a visão bíblica literal não responde a algumas questões básicas quando se trata, por exemplo, da idade do universo. O modelo que indica que o tempo continua por 13.7 bilhões de anos no passado até o big bang dá conta de explicar as atuais observações de registros históricos e geológicos. Ele explica o registro fóssil e de radiação, o fato de que recebemos luz de galáxias milhões de anos luz de distância. Isso faz esse segundo modelo mais útil que o primeiro.
- Realismo Dependente de um Modelo: A idéia de que uma teoria física ou uma visão de mundo é um modelo(geralmente de natureza matemática), e um grupo de regras conectam os elementos do modelo à observações.
HAWKING, Stephen. What Is Reality? In:______. The Grand Design. Londres: Bantam Press, 2010. Cap. 3, p. 39-57.
terça-feira, 26 de julho de 2011
Elos Perdidos
A transição de peixe para anfíbio não foi uma transição direta da água para a terra, foi uma transição de barbatanas para patas que aconteceu na água. Como alguns peixes modernos, os primeiros anfíbios desenvolveram patas que os capacitaram andar pelo fundo dos pântanos(que proporcionavam novas fontes de comida e proteção). Isso significa que as barbatanas não precisaram mudar rapidamente, a musculatura de sustentação dos membros não precisou ser bem desenvolvida, e a musculatura axial não precisou mudar NADA. Eventualmente, porém, anfíbios foram para a terra. Isso envolveu uma fixação mais firme da pélvis na espinha e a separação entre o ombro e o crânio. Pulmões não foram um problema, já que eles são uma característica antiga em alguns peixes e já estavam presentes na época. Alguns exemplos desta transição no registro fóssil são:
Osteolepis - (meados do período Devoniano) O gênero dos primeiros peixes com nadadeiras lobadas. O lobo superior da cauda era mais desenvolvido que o inferior. Tinha barbatanas em pares com um arranjo ósseo similar a pernas, que eram capazes de flexionar "cotovelos". Além de crânio e dentes que lembram os de um anfíbio primitivo.
Eusthenopteron - (meados para fim do Devoniano) Foi primeiro descoberto através de um fóssil completo encontrado em 1881. O crânio era muito similar ao de um anfíbio, bem como a forte coluna vertebral, o layout dos maiores ossos das barbatanas e a musculatura. Não há, porém, "dedões" perceptíveis e a proporção entre o crânio e o resto do corpo ainda são como a de peixes.
Panderichthys - (meados para fim do Devoniano) Diferente do Eusthenopteron, esses peixes tinham proporções corporais muito similares às dos tetrapodes(corpos achatados, ossos frontais no crânio, cauda reta, etc.) e tinham barbatanas notavelmente similares a patas.
Acanthostega - (final do Devoniano) Eram muito similares a peixes, e recentemente Coates e Clack (1991) descobriram que ainda possuíam guelras internas e câmaras operculares para uso na respiração aquática. Isso implica que os primeiros tetrapodes não eram totalmente terrestres, o que obscurece a distinção tradicional entre tetrapodes e peixes. Acanthostega também possui "ombros" e membros superiores como os de um peixe.
Imagens comparativas:
Fonte:
http://www.talkorigins.org
http://www.devoniantimes.org/opportunity/tetrapodsAnswer.html